Há já alguns dias que me queria dedicar a escrever um conjunto de mensagens de acontecimentos ou momentos que me têm marcado, mas penso que de todas as que tenho em mente aquela que é mais urgente de contar seja esta de hoje.
Aquilo que vos vou contar é 100% realidade e deve constituir um exemplo de vida para todos nós.
Numa das nossas turmas, um antigo aluno muito bom estudante, destaca-se no dia-a-dia da PUC. O nome dele pouco importa porque afinal o que realmente conta é a sua coragem, força e alegria de viver, por isso vou chamar-lhe "António" para proteger a individualidade dele.
Rapaz moderno, vivo e um pouco indisciplinado o António levava uma vida activa enquanto desportista, fazendo vários desportos ao mesmo tempo que os estudos não eram propriamente a sua maior preocupação. Grandes noitadas, muita farra e garotas para umas noites bem passadas.
Em 2000, durante uma aula de Jiu Jitsu, uma das actividades desportivas que ele praticava, o António caiu mal no chão e magoou-se. Mas disse bem...magoou-se, nada mais que isso! Sentiu uma forte dor na cabeça e nas costas mas saiu pelo próprio pé para se dirigir ao hospital. Chegando lá disseram-lhe que ele tinha feito um lesão grave na coluna, mais especificamente nas vértebras C3 E C4 e que tinha de ser operado com a máxima urgência para evitar algo ainda mais grave.
Após uma cirurgia que estava planeada durar 8 horas mas que se estendeu para as 12, o António acordou mas não falava, não sentia nada. O António tinha ficado tetraplégico. Ver alguém querido entrar pelo próprio pé para um hospital e de lá sair tetraplégico é o fim da vida! Foi isso que os pais do António pensaram...que tudo aquilo não passava de um pesadelo que logo logo ia acabar.
Mas não era um pesadelo...era a realidade! Como devem imaginar o choque é imenso, não só para a família como para a própria pessoa que de um momento para o outro passa de um jovem com 20 anos, activo e bonito para um deficiente altamente dependente de terceiros. O António entrou em depressão, assim como a mãe dele. Foram quase precisos 8 anos até que se começassem a verificar algumas melhorias no estado psicológico de ambos e já depois de muita ajuda médica.
Para agravar toda a situação em 2003, ao entrar para a estação de metro em Botafogo, local onde reside o António e onde não existia à data elevador para fazer o acesso à estação, um funcionário do metro terá empurrado a cadeira de rodas do António pelas escadas abaixo. Completamente indefeso e podendo apenas contar com a ajuda de pedestres que passavam o António não pôde defender o rosto, os braços, as pernas das agressões das pontas metálicas das escadas rolantes e ficaria com o rosto rasgado e parte do braço. Seguiram-se operações estéticas para poder retomar a aparência o mais natural possível...mas o que estava definitivamente rasgado era a alma!
Com dois processos jurídicos a decorrer, um contra o centro de Jiu-Jitsu e outro contra o metro do Rio o António fala que luta com os pais não pelo dinheiro mas pela justiça que tem de ser feita perante instituições, organismos e pessoas negligentes, que jamais se pode arriscar a fazerem o mesmo a outros. O António admite que com os pais já idosos a terem de continuar a trabalhar para pagar as enormes despesas de uma pessoa que tem de andar 24 sobre 24h com enfermeiros do lado, o valor das indemnizações, que ascendem quase a 4 milhões de euros, seriam uma grande ajuda mas que acima de tudo não pode voltar a acontecer o mesmo com terceiros.
Mas toda esta história perguntam.se vocês como eu a soube!? Começou de forma espontânea num corredor da PUC entre o António, o Francisco, eu, a Ana Carolina e o nosso professor Gesualdi. Foi o próprio António que quis contar como tinha acontecido o seu acidente e a meio da conversa já quase que todos chorávamos.
Mas aquilo que me levou a escrever este texto e que é de veras impressionante é a força e a alegria do António. Em 2008, após o inicio da recuperação da depressão o António encontrou a sua nova razão de existir, de sentir e de viver: ESTUDAR! Inscreveu-se na PUC e apesar de saber que os seus obstáculos iam ser inúmeros dedicou-se de corpo e alma aquele seu novo objectivo. Hoje, passado 2 anos, o António é o melhor aluno do curso de Administração na PUC e sente-se plenamente feliz e realizado. Os professores indicam-no como um exemplo a seguir por todos os estudantes e os colegas adoram-no Ele é simpático e super admirado e respeitado pelos colegas.
E digam lá que isto não dá que pensar! Naquela hora de conversa percebi o quão pequenos, mesquinhos e medíocres são a maior parte dos problemas pelos quais discutimos nas faculdades, casa e empregos todos os dias. O António é sem dúvida um exemplo de coragem e determinação a seguir e aqui, em frente de todos vós, lhe deixo o meu sincero Obrigado a minha mais pura Admiração por ele ser quem é.
Beijos e Abraços e pensem o quão efémera é a vida para discutirmos com os que nos são mais queridos, geralmente, por coisas que comparadas com esta não são nada!
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